Postado em 05/08/2014 às 18:00
Grupo que se conheceu no Facebook realiza ações sociais em entidades carentes de Fortaleza

Após passar a semana trabalhando como professora, Erika Luiza Ferreira aguarda ansiosamente pelo final de semana. Aos sábados ela acorda cedo, sempre com um destino diferente e um sorriso no rosto. O motivo tem um nome: solidariedade. Ela faz parte do grupo Amigos Solidários, que atua há dois anos em Fortaleza. “Sempre admirei a ajuda ao próximo. Já tinha tentado me engajar em outros projetos mas não deu certo. Quando eu vi meus amigos se organizando para montar o grupo não hesitei e decidi abraçar a causa”, conta entusiasmada.
Entre as instituições beneficiadas pela solidariedade do grupo estão Lar Torres de Melo, Instituto Cristo Rei, Lar Santa Mônica, Resgatando Vidas, Lar de Nazaré, Casa Abrigo e outras. Uma das primeiras e tradicionais ações é o sopão levado às pessoas em situação de rua do Centro da cidade, realizado uma vez por mês. Preocupados, os jovens organizam todas as etapas, desde a compra dos ingredientes, até o preparo e a distribuição da sopa.
Além da distribuição, os membros buscam conversar com as pessoas que vivem naquela situação a fim de oferecer companhia e levar esperança. “Já ouvimos muitas histórias tristes. Desde um baiano que matou alguém e fugiu para o Ceará até uma jovem que morava no Pirambu e que passou a morar na rua com o namorado, pois a avó não aceitava o namoro”, lembra o jornalista e integrante Jefferson Privino.
Algumas ações ocorrem fora do planejamento, como em março deste ano, quando o Lar Torres de Melo foi assaltado. Mobilizados pelo acontecimento, eles cancelaram a ida à instituição que haviam agendado e levaram doações de fraldas e produtos de higiene pessoal para o abrigo de idosos. Erika Luiza foi uma das que ficou revoltadas com o fato. “Como as pessoas tem coragem de fazer isso com um ser tão indefeso, que é o idoso?”
A ideia de criar o grupo solidário veio da assistente social Lorena Cordeiro. Ela participava de um grupo com o mesmo objetivo em uma igreja, mas não pôde continuar devido seus compromissos com a faculdade e trabalho. Após se formar em Serviço Social, conversou com Thyago Dantas, seu namorado, sobre a ideia e os dois convidaram outros amigos que de imediato aceitaram participar. A maioria dos membros mora no Carlito Pamplona, um bairro que também precisa de iniciativas filantrópicas, pois sofre com a violência e insegurança.
Em julho de 2012, ano de fundação do grupo, havia 20 membros. Alguns tiveram compromissos e não conseguiam conciliar o trabalho com as atividades solidárias e deixaram de participar, mas continuam colaborando como podem. Esse não é o caso de Jefferson Privino, que já abdicou do namoro no sábado à noite e deixou de ir a reuniões familiares. “Já recusei trabalhos porque algum horário batia com o sopão ou com outra ação na semana ou mesmo no fim de semana. Garanto que vale a pena. É uma experiência de amor que não tem preço”.
Nessa caminhada os jovens já encontraram algumas dificuldades. Alguns membros foram assaltados e até hostilizados durante as ações. “Já chegamos a ser mandados embora durante um sopão porque as pessoas ali queriam fumar”, diz Jefferson Privino. Mas isso não os fez desistir. “No dia que a Débora foi assaltada nós tentamos acalmá-la, mas só quando chegamos à instituição do dia, um abrigo para crianças que já foram abusadas sexualmente, é que ela ficou calma. O carinho que essas crianças deram a todos nós fez ela esquecer do assalto e ficar bem”, recorda Erika Luiza.
O receio se transformou em afeto. “Por ser conhecido como um bairro perigoso, a gente tinha medo de ir ao Projeto Resgatando Vidas, que fica no Pirambu. Mas quando conhecemos o seu Evaldo, um dos integrantes do projeto, mudamos nossa visão. Ele nos apresentou à comunidade e logo nos sentimos em casa”, revive. A experiência mostrou à Erika que em meio a qualquer situação ruim, sempre tem alguém que se sobressai por sua bondade. Assim como os jovens do grupo buscam fazer algo diferente, nas comunidades existem pessoas com o mesmo objetivo e que juntos, podem mudar o mundo.
Planejamento
O grupo se reúne uma vez por mês para definir o calendário de visitas. Um membro fica responsável por ligar para as instituições agendando a visita. Depois é hora de angariar fundos para comprar os materiais a serem distribuídos, como cesta básica, roupas, livros, produtos de higiene pessoal, brinquedos, entre outros. Algumas vezes os membros pagam do seu próprio bolso, outras vezes organizam campanhas no Facebook e bazar de roupas para arrecadar a renda necessária.
Além disso, também há uma preparação específica para os membros que irão realizar a ação solidária. Quando vão a uma instituição onde há crianças eles preparam brincadeiras, jogos de futebol e atividades lúdicas para interagir com essas crianças. “Tudo feito com muito amor”, declara Erika Luiza Ferreira.
Durante os dois anos de atividade dos Amigos Solidários, alguns princípios como esperança, solidariedade e amor à vida foram fortalecidos na vida dos integrantes. “Eu, que trabalho em uma escola pública, posso perceber como é a realidade dos meus alunos. Passei a entender mais a realidade deles e isso mudou a minha forma de enxergá-los. Hoje sou mais compreensiva e prezo pelo crescimento deles”, declara a professora Erika Luiza. “Se olhássemos com caridade para o próximo, talvez o mundo fosse melhor”, complementa Jefferson Privino.
Também quero ajudar mas não tenho tempo, como faço?
Para integrar a equipe é necessário participar de pelo menos três ações, frequentar as reuniões e mostrar compromisso com as atividades. “Com o tempo a gente foi aprendendo, porque algumas pessoas entravam no grupo com outros interesses e isso prejudicava muito”, lamenta Erika.
Ao fim da ação solidária, muito afeto foi trocado e sorrisos sem fim. A professora Erika Luiza Ferreira, mencionada no início da reportagem, se prepara para voltar à sua casa. “Quando volto sinto uma paz, uma sensação de dever cumprido. Fico muito feliz em ver que eu tô conseguindo fazer a minha parte dedicando meu tempo a pessoas que geralmente passam despercebidas. O mundo precisa disso”.
Deseja participar?
Para as pessoas que desejam ajudar, mas não têm tempo disponível, é possível acompanhar a fanpage Amigos Solidários e doar algo que o grupo esteja precisando, como roupas para o bazar, de ração para instituições que cuidam de cachorros abandonados, entre outras necessidades. Caso o doador não possa se deslocar até o local da ação, membros do grupo se comprometem em ir até à casa do colaborador para receber as doações.
Matéria extraída do site Tribuna do Ceará